domingo, 30 de novembro de 2008

Nova produção... o que sai do coração...

O vento assoviava passando por entre a porta aberta da varanda do quarto, flamulando a cortina branca graciosamente, enquanto a majestade sol despontava seus primeiros raios no horizonte. A pele de seu rosto sentindo a suave brisa que batia, suas pálpebras agora começavam a absorver a nova claridade que surgia, continuava imóvel, inerte em um sonho qualquer esperando que alguém viesse lhe acordar. Os segundos se arrastavam, nada se movia, exceto pelo rastro do belo sol que sobre o dia se erguia, sua claridade queimava mais e mais nos olhos daquele jovem rapaz, fazendo-o despertar.

Abriu os olhos lentamente, sem aversão nenhuma àquela claridade e quentura, como o toque de uma sedosa mão a acariciar os cabelos de alguém que se prepara para acordar. Fitou a estrela no horizonte, ainda com sua cabeça confortavelmente descansada sobre o macio travesseiro, não se sabe o que o jovem rapaz estava pensando em quanto observava a majestade e sorria, mas depois de alguns momentos levantou-se energicamente sentando na cama, ao colocar os pés no chão sentiu certo frescor e a textura áspera do carpete, confortou-se, olhou para o espaço vago ao seu lado e estendeu seu braço a fim de tocá-lo com suas mãos, pôde ainda sentir um suave calor que sumia mais e mais a cada segundo...

Pôs as mãos sobre os joelhos, fez força e levantou-se, estava sozinho no quarto, caminhou até a porta que estava já aberta, olhou mais uma vez o sol no horizonte, olhou para o carpete do outro lado da cama e viu caída uma camisola de cor lilás bem clara. Atravessou o portal, pôde ouvir algo, como estática vinda da sala de estar, rumou em direção a ela, no meio do caminho ouviu uma música infantil que tocava na televisão, apenas um programa infantil de um canal qualquer, olhou para duas mochilas encostadas a parede leste da sala, uma era azul e outra rosa com diversos desenhos e/ou estampas que não conseguia ainda identificar por ter acabado de acordar. Pegou o controle sobre a mesa que se encontra no centro do cômodo, mirou a televisão e apertou o botão "Power", devolveu o controle remoto ao seu lugar.

Fechou os olhos por um momento, respirando fundo, ouviu o som de água correndo. Passou a língua por entre os lábios, sentiu um pouco de sede. Virou de costas, foi novamente para o corredor, passou a cozinha e estancou a frente da porta seguinte, que se encontrava apenas encostada, estendeu a mão à maçaneta, sentiu o frio metal transmitindo seu gelo para sua mão, e empurrou a porta lentamente. Um filete de água escorria da torneira, uma água de aspecto frio, cristalino e delicado, incessante. Ele foi se aproximando, abriu um pouco mais torneira e a água jorrou com maior pressão, estendeu as mãos e posicionou-as sob o jato d'água, lavou-as e colheu um pouco dela levando em direção ao seu rosto a fim de enxaguá-lo e espantar seu sono, repetiu a seqüência de movimentos por duas vezes. Parou olhando o espelho a sua frente, que lhe refletia, revelando uma cicatriz na sobrancelha, olhar pacífico de cor castanho-escuro, um sorriso simples em seus lábios, completando com seu corte de cabelo simples e sua pele sedosa como a de quem nunca teve barba... Estendeu as mãos em direção a toalha que está ao lado do lavabo, pegou-a enxugou o rosto de forma aliviada e carinhosa, concluiu por secar as mãos e devolver a toalha úmida ao seu lugar.

Talvez o jovem sentisse algo como a sensação de renovação e relaxamento...

Ele saiu do banheiro, fechando a porta silenciosamente, vagou pelo corredor até que parou olhando para um retrato de família. Retirou-o da parede, olhou atentamente, parecia ser ele mesmo ainda que um pouco mais velho, uma bela senhora com não mais que trinta anos, a frente do casal duas crianças: um menino e uma menina... Sua mão tremeu um pouco, sentiu-se fraco por um momento deixando o retrato escorregar por entre os dedos e ir de encontro ao chão, quebrando-se em vários pedaços... Sua visão distanciou-se da cena do retrato espatifado no chão, sentiu suas pernas leves, sem o chão sob seus pés, sentiu uma brisa que passeou em seu corpo por um breve momento, uma claridade branca o consumiu por um instante ou dois...

Sentiu pressão de dentro para fora em seu tórax, respiração acelerada, abriu os olhos desesperada e ansiosamente, ele se encontrava deitado em sua cama descoberto, abraçado a um travesseiro, sentou-se para poder respirar melhor. Não havia mais ninguém no quarto, não havia um espaço vago ao seu lado, pois era apenas uma cama de solteiro, no chão não havia nenhuma camisola, apenas o conector do carregador do celular N95. Em uma das paredes do quarto, se encontrava um computador e sobre este uma janela, num outro uma estante de livros, no outro um guarda-roupa, e uma porta do lado oposto ao computador. Não era amplo, mas era o suficiente, mal iluminado por causa da cortina bege que cobria a janela quase por inteiro. Não era tão aconchegante quanto o quarto em que outrora acordara, nem tão amplo.

Limpou a mente, soltou um suspiro como quem está entediado e se soltou com força sobre o travesseiro... felizmente ou infelizmente ele ainda se encontrava lá... não se sabe... mas se sabe que ele fechou os olhos e entregou sua mente a paz, a calma e a liberdade do seu quarto...