quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Descrição (texto reeditado e revisado)

Sempre será aquele mesmo garoto, consciente e reflexivo a cerca de sua vida, parado em meio a um vale sentindo a grama entre os dedos de seus pés, sentado com os cotovelos sobre os joelhos. Contemplava o horizonte, onde se empilhavam árvores e mais árvores em contraste com o céu límpido azul sem muitas nuvens. O garoto usava uma bermuda estilo surfista verde e amarelo - refletindo a Natureza e a riqueza da mesma ao seu redor -, a camiseta com manchas em azul mal conseguia chegar ao pés da linda cor do céu sobre sua cabeça, no pescoço não trazia consigo nenhum colar de cocos negro, nem no pulso esquerdo uma munhequeira quadriculada branco-azul, vão-se os anéis de prata, ficam-se os dedos... Até esse dia ele não descobriu seu verdadeiro estilo, mas decidiu que seria melhor ficar apenas de cabelo raspado, no rosto a barba mal feita e rala... sobre o seu olho esquerdo podia-se ver claramente uma cicatriz que lhe deixou falha a sobrancelha... Permanecendo lá sentado.

Resolveu se deitar, olhou o céu por um breve momento e fechou os olhos... Pôde reviver boa parte de seus anos em lembranças... Ele notou que nunca encontrou o seu lugar nas rodas de amigos as quais freqüentara, por causa desses amigos nunca abriu mão dos seus reais valores e costumes - deles só poderia largar alguns dos costumes por alguém muito especial, que até então não conhecera... e com as garotas não foi diferente, que eram sempre iguais, sempre tão banais, nenhuma até então conseguira lhe conquistar o coração... talvez pois nunca deixara isso acontecer... mas a tentação de deixar algo assim acontecer é grande...

Algumas amizades lhe restaram, algumas cicatrizes também, pessoas com quem tem muita afinidade e que gosta muito de conversar. Seja uma conversa inteligente, seja uma conversa fútil e divertida, confidências ou mesmo sobre as confusões do passado que demoram a se apagar de sua mente e esfriar em seu peito. Sentimentos ficam, o pessoal se afasta, novas emoções surgem, novos fatos ocorrem, novas lagrimas escorrem... - Interrompeu seus pensamentos: "preciso parar com isso...", talvez ele devesse pensar em ser protagonista de suas histórias ao invés de apenas ser um coadjuvante.

Suas mãos, que até então se encontravam com os dedos cruzados descansando sobre sua barriga, cansados de tanto pesar sobre teclados, enfraquecidos se soltaram, uma delas escorregou e esbarrou em algo ao seu lado... não foi necessário abrir os olhos, pois sabia onde esbarrara e então o ato de olhar se fez desnecessário... ele continuou mergulhado na mais profunda escuridão constelada por lembranças e pensamentos do seu verdadeiro eu, que somente ele conhecia... Ainda que duas ou três pessoas tivessem em mãos algo como um mapa para conhecê-lo profundamente... mesmo assim, não todos os seus segredos...

Na mochila, a qual esbarrara, seu N95 vibrava, sem quebrar a harmonia do ambiente em que se encontrava, junto de seu Notebook, duas garrafas de água, barras de cereal, barra de chocolate meio-amargo, três maçãs, mel, cookies, carteira e outras coisas sem a mínima importância... Como dois cadernos velhos, contendo essências sintéticas de seu ego... Mais nada se confundia em sua mente ali sozinho, apenas se misturava, sentado esperando alguém especial passar pelo seu caminho. Até que esse momento chegue, deve manter em sua mente a idéia de que ele ainda existe...

Levantou-se, recolheu sua mochila e jogando-a nas costas pôs-se a andar... a caminhada havia rendido por volta de 15 minutos quando o rapaz pôde observar o chalé... entrou jogo a mochila na cama e saiu novamente... caminhou mais uns instantes pela grama querendo refrescar a cabeça depois de tantos pensamentos, enquanto isso começava a chover... Sentia a grama úmida misturada a lama que antes era terra sob seus pés, suas roupas agora encharcadas e coladas, a água fresca escorria por ele e lhe limpava não apenas o corpo, mas os problemas de sua mente e a tristeza de sua alma... a energia positiva trazida pela Natureza lhe fazia tudo mais feliz...

Ergueu seu rosto para o céu, sentiu as gotas frescas pingarem em seus olhos e fechou-os instintivamente, até que levou o dedos aos olhos secando-os. Viu o arco-íris acima de sua cabeça, sorriu sem preocupações, como uma criança que acaba de ver algo novo, fantástico, curioso e belo. Seu corpo pesou, suas pernas enfraqueceram e, reclinando-se para trás, foi caindo com sorriso estampado em seu rosto...


Pois as mudanças ocorrem e não há como delas escapar
É bom lembrar que fazendo sol ou chuva, um lindo dia sempre vai nascer
e que flores nascerão nesse jardim, sendo que acima,
nuvens surgem do horizonte, numa imensidão sem fim
e se abrigar sob a sombra de uma bela árvore
É paz que não tem preço, pois afinal viver é ser livre,
Essa tranformação constante da Natureza é que nos traz a noção
Tudo toma foco ao nosso redor e permitindo enxergar sempre mais e mais
Dedico estas palavras a todos que tanto aprecio e a quem me dedico